segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Morador do 401


Capítulo XIII - A primavera


Com o início da primavera as pessoas, assim como as flores, tendem a desabrocharem. Envolvidas pelo perfume da estação mostram suas frontes e seus corpos.
O morador do 401 , contagiado pela alegria da nova estação, resolve sair de sua casa em busca de diversão. Percebe que os dias frios ficaram para trás, e inspirado pelos raios solares canta a felicidade dos dias bonitos da primavera.
Nem sempre a canção o faz alegre. Às vezes a melodia o faz meditar e ele mergulha em reflexões. Planeja o futuro sem muitas esperanças, pois sabe que é preciso viver o presente. Teme novas visitas, mas deseja ardentemente ser encontrado.
É paradoxal quando se trata de sentimentos, pois já viveu diversas desventuras e isso infelizmente o tornou retraído. Mas a primavera chega e trás consigo sempre uma nova esperança...
Enquanto passeia pela Vila eis que avista o último visitante , compenetrado em resolver seus problemas. O morador do 401 estuda-o detalhadamente. Escuta sorrateiramente seus argumentos e analisa cada passo dado. É difícil confiar em suas palavras, pois sua aparência juvenil o condena a frivolidade.
Depois de conhecer uma certeza que temia saber e que buscou esquecer, o morador do 401 teme os afetos de estranhos visitantes. Todos passam pela sua análise apurada. Dificilmente abre as portas de sua morada para alguém que não tem a certeza de conhecer. Talvez isso o torne sozinho, mas é a única forma que encontrou de se proteger das desventuras da vida.
Continua seu passeio pelos campos. Pára em certo trecho do caminho para refrescar-se a beira do lago e vê seu reflexo nas águas . Observa atentamente sua face e vê que não é feliz. Pergunta-se onde deixou-se, em qual estação da vida perdeu sua alegria de viver? Senta-se na beira do lago e passa a refletir o significado daquela imagem tortuosa...A primavera lhe trouxe talvez um momento decisivo.



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