Essa noite fez temporal no 401. O vento gélido entrava pela fresta da janela e trazia consigo lembranças do passado; ares de uma outra terra, distante do Vale das Lágrimas. O morador do 401, adoecido, quase não respirava. Adormeceu a muito custo após ingerir um antitérmico. Seu sono era pesado e ao mesmo tempo tumultuado. Imagens, sons e cheiros se misturavam em sua mente. Era difícil traduzir seus múltiplos significados. À medida que a noite se arrastava, arrastava também as imagens: rostos, passos, barulhos e odores a desfilar em sua memória fotográfica.
Um metrô, uma multidão, o barulho do trânsito, sangue pelas vidraças. Na companhia de um homem alto entrou em um vagão lotado. Seu nome, sua identidade: indefinido. Ao locomover do trem, ruídos estranhos, gritos, gemidos. De repente, feito bombas programadas, as pessoas explodem. Sangue por todo lado. Ninguém além do morador e do homem alto havia sobrevivido aquela estranha desventura. Ao sairem do vagão - uma estrada de terra batida. Perplexos pela imagem e pelo acontecido saem as tontas pela estrada. Após uma longa caminhada, o sol nas cabeças, as roupas sujas de sangue, sedendos, visualizam novamente o vagão do trem. Os vidros ainda ensanguetados, os pedaços de carne ainda espalhados pelo chão. Sem alternativas embarcam novamente no vagão. Vagarosamente ele volta a se locomover e aos poucos vai ganhando ; vai ganhando, vai ganhando ; vai ganhando velocidade... A mesma cena insana se repete. De volta a estação de trem.
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