segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O morador do 401

E era uma vez....

Uma breve descrição do personagem:


O morador do 401 é alguém misterioso, que não gosta muito de se mostrar. Teme a novidade e as visitas constantes que recebe nem sempre lhe trazem alegria. Muitos apenas entram pra bagunçar ainda mais a sua morada.

Capítulo X - Um novo visitante


Agosto de 2008



Amanhece (e literalmente amanhece) e um novo cavalheiro aproxima-se do 401. Sua aparência, nada extravagante, chama atenção mais pela simplicidade que se locomove do que pelos trajes que veste. Vagarosamente mas tenaz, bate à porta da morada. Sua resposta é o eco. Nada, nada além do misterioso morador habitava naquela recôndita casa.
O morador escuta, vigia com curiosidade o homem parado na porta. Silencioso, finge não estar ali. Teme a nova visita. Um cobrador? Não. Definitivamente não. Não devia nada a ninguém. Não se recordava naquele momento uma circunstância para tal visita.
Começou a lembrar da última visita que recebera: Homem alto, estrangeiro, de coração ocupado e cheio de vícios. Ele bem que tentou entrar, mas o morador do 401 temia seus defeitos e logo logo o homem acabou por mostrar sua verdadeira face - oculta por baixo do capuz acinzentado de suas vestes. Não era homem de bem. Chegou com intenções obscuras e partiu rapidamente para a casa ao lado em busca de tesouros escondidos.Não custou a esquecer tal visita, afinal sua passagem por ali não tardou. E o morador do 401 estava muito ocupado para se preocupar com assaltantes.
A vida no campo exige muita dedicação e atenção e o nosso personagem é exigente consigo mesmo. Sabe que para tudo existe um tempo certo. Tempo para arar a terra, para retirar as ervas daninhas que com o tempo vão se acumulando pelo terreno, tempo para semear, para cuidar e para colher. Sabe também, que muitas vezes, o tempo não lhe é favorável para a colheita. Há tempestades que põem tudo abaixo e é preciso recomeçar do zero.
Pensava nessas coisas enquanto o novo visitante batia à porta. Nobre cavaleiro, de coração aparentemente puro, mas ainda ocupado. No rosto a juventude e no sorriso a alegria de viver. Batia com precisão matemática.
O morador, desconfiado do belo jovem, continuou em silêncio.
_ Não me parece confiável tal rapaz. O que o traz a essas horas em minha morada?
Pela fresta da janela observa a paciência do rapaz. Ele parece sentir a presença do morador do outro lado e por isso insiste em bater. É paciente e sabe, por outras pessoas, que o morador do 401 não gosta de se mostrar a qualquer um.
Mas o morador do 401 também tem paciência e sabe muito bem as conseqüências que pode sofrer com a nova presença. Ele teme o que não conhece e tira lições das experiências de outros.
O tempo vai passando e lá fora uma chuva ameaça a desabar. Inquieto com a demora do outro em abrir sua porta, foge para um abrigo nas redondezas.
O morador suspira aliviado a partida do possível ladrão.
_ Espero que essa tempestade demore a passar e que esse infeliz desista de sua excursão. Já estou cansado de tais arrombos e visitas inesperadas. Que parta definitivamente da minha casa!

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